segunda-feira, 26 de maio de 2014

TRANS HOMENS E O PODER SOBRE MEU CORPO



Os homens trans são diferentes entre si em função dos próprios marcadores sociais de diferenças, como a classe social, a raça/cor, a orientação sexual, a geração, a origem geográfica, entre outras. Eles, de modo geral, utilizam o termo “transexual” ou “trans” frequentemente tomando-o como adjetivo e, por isso, precedido pelo substantivo “homem”. São pessoas que nasceram com a genitália feminina e desde criança não se identificam com o sexo biologico feminino, pois sempre se sentiram meninos em sua psique, por isso que muitas vezes a necessidade de se reconhecer do sexo masculino é inerente a sua personalidade, para isso acontecer passam por vários conflitos sejam eles individuais( numa sociedade que é  outogardo o binarismo de genero- masculino x feminino),familiares e sociais, como são criadas para serem meninas, sofremo em silencio no   seu lar por meses, anos e alguns até décadas. Algumas experiências e marcos culminam na decisão de, em algum momento da vida, reclamar a identidade masculina. Tal decisão é associada não só à possibilidade de obtenção de conforto psíquico, mas de respeito e reconhecimento social.
  
Entrei no universo dos homens trans em João Pessoa em setembro de 2012, onde eu desempenhava meu trabalho como Diretor do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids em João Pessoa e acolhemos dois homens trans no serviço onde os profissionais por meio de relato de experiência relataram sobre a dificuldade de prescrever hormonioterapia a esse público bem como da dificuldade de trata los pelo NOME SOCIAL e  até mesmo de fazer um simples exame ginecológico nesses homens. 
Assim foi tomada uma decisão entre a equipe multiprofissional, iriamos dialogar com os mesmos sobre essas dificuldades e iriamos qualificar a equipe trazendo um profissional que pudesse prescrever a hormonioterapia e discutiríamos os casos durante nosso processo de trabalho. Assim foi feito, realizamos varias discussões sobre a invisibilidade desses homens tanto a nível familiar como no contexto social em João Pessoa começou a ser referencia para outras cidades do nordeste, em 08 meses tivemos vários homens trans vindo de Recife , Natal e outras cidades do interior da Paraíba para o atendimento a nossa equipe multiprofissional, onde realizamos pactuações de atendimento com outras especialidades médicas dentro do CAIS Jaguaribe.
Nesse sentido recebemos algumas mães desses homens trans que vinham com os mesmos ( já que grande parte eram jovens) de várias cidades, assim realizamos uma escuta qualificada também das famílias e percebemos a dificuldade que era para a família entender sobre esse processo transexualizador. Pois vivemos numa identidade de gênero binária onde fica muito difícil essa família acolher um homem que foi educado a vida toda como menina e na adolescência essa menina precisa mudar seu corpo para se adequar ao seu sexo  indenitário masculino, nesse rompimento há vários conflitos subjetivos, principalmente no tocante ao seu corpo biológico feminino em contraste com a  sua psique masculina.

Diferentemente dos transexuais feminino que foram educados como menino e assim já tinham esse comportamento cultural de serem educados para agirem fora de casa, os homens trans foram educados para serem comportados e obedientes, assim havia uma dificuldade de se expressarem pelo próprio comportamento sócio-cultural esperado de uma menina.( submissa, comportada e dona de casa).

Assim depois de muitas rodas de dialogo entre profissionais, família e os próprios usuários, resolvemos promover o I Seminario Municipal sobre Homens Trans que ocorreu na UFPB  em dezembro de 2012.
Uma questão unanime trazida durante os debates foi sobre a autonomia desses homens de mudaram seus corpos sem precisarem de laudos da equipe multiprofissional em saúde, claro que de um lado é uma forma que o SUS encontrou de cuidar integralmente desses corpos, porem há um outro lado que Foucolut vai trazer no livro vigiar e punir sobre o processo de docilização desses corpos, é como se o outro tivesse mais uma vez o poder de dizer o que se pode ou não se pode fazer sobre esse corpo. Onde o grande questionamento dos homens trans é seu o corpo é meu, eu tenho os multiplos desejos e o dominio sobre ele e não é o seu saber  tecnicista que vai molda lo de acordo com o seu olhar científico.
O segmento populacional de homens trans, transhomens, FTM, transgêneros e transexuais masculinos sempre foi, na história deste país, uma categoria social e política invisível e inexistente. Tal situação vem sendo modificada pela importante visibilidade na mídia ocasionada pelo lançamento do livro autobiográfico Viagem Solitária de João W. Nery, transhomem mais antigo do Brasil, em 2011; pela militância dos homens trans, junto a fundação da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT) em 2012; o acolhimento do movimento LGBT e da academia; a facilidade de comunicação entre o segmento decorrente da utilização da internet; e o acolhimento dos homens trans no Processo Transexualizador no SUS, ainda que até então haja restrição à atenção ao nosso segmento neste Processo.

No entanto esse  segmento populacional invisível possui prejuízos grandes relacionados à violência homo-transfóbica e machista, e se encontram numa situação de grave negação de direitos sociais como saúde específica e integral, educação, trabalho, segurança entre outros. Considera- se também a invisibilidade uma expressão da transfobia, da homofobia e do machismo, que nos obriga a permanecermos invisíveis como uma medida de proteção contra violências as mais diversas e negação de direitos.


Vale ressaltar que a ABHT - Associação Brasileira de Homens Trans e o recentemente instituto criado  IBRAT – Instituto Brasileiro de Trans Homens, são fundamentais para a reflexão dos homens trans no Brasil e que esses militantes possam continuar com sua luta infindável de terem direitos por politicas publicas para que suas vozes possam ser ouvidas e serem ecoadas para alem de seus corpos!

FONTES PESQUISADAS:

O HOMEM TRANS E A (RE) CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Patrícia Michelini de Matos Batista, discente do curso de Licenciatura em Ciências Sociais, bolsista de
iniciação científica da Universidade Estadual de Santa Cruz (ESC) – PROIC/UESC 2012


Homens trans': novos matizes na aquarela das masculinidades?

Guilherme Almeida










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