Os
homens trans são diferentes entre si em função dos próprios marcadores sociais
de diferenças, como a classe social, a raça/cor, a orientação sexual, a
geração, a origem geográfica, entre outras. Eles, de modo geral, utilizam o
termo “transexual” ou “trans” frequentemente tomando-o como adjetivo e, por
isso, precedido pelo substantivo “homem”. São pessoas que nasceram com a genitália feminina e desde criança não se identificam com o sexo biologico feminino, pois sempre se sentiram meninos em sua psique, por isso que muitas vezes a necessidade de se reconhecer do sexo masculino é inerente a sua personalidade, para isso acontecer passam por vários conflitos sejam eles individuais( numa sociedade que é outogardo o binarismo de genero- masculino x feminino),familiares e sociais, como são criadas para serem meninas, sofremo em silencio no seu lar por meses, anos e alguns até décadas. Algumas experiências e marcos culminam na decisão de, em algum momento da vida, reclamar a identidade masculina. Tal decisão é associada não só à possibilidade de obtenção de conforto psíquico, mas de respeito e reconhecimento social.
Entrei no universo dos homens
trans em João Pessoa em setembro de 2012, onde eu desempenhava meu trabalho
como Diretor do Centro de Testagem e Aconselhamento em DST/Aids em João Pessoa
e acolhemos dois homens trans no serviço onde os profissionais por meio de
relato de experiência relataram sobre a dificuldade de prescrever
hormonioterapia a esse público bem como da dificuldade de trata los pelo NOME
SOCIAL e até mesmo de fazer um simples
exame ginecológico nesses homens.
Assim foi tomada uma decisão entre a equipe
multiprofissional, iriamos dialogar com os mesmos sobre essas dificuldades e
iriamos qualificar a equipe trazendo um profissional que pudesse prescrever a
hormonioterapia e discutiríamos os casos durante nosso processo de trabalho.
Assim foi feito, realizamos varias discussões sobre a invisibilidade desses
homens tanto a nível familiar como no contexto social em João Pessoa começou a
ser referencia para outras cidades do nordeste, em 08 meses tivemos vários
homens trans vindo de Recife , Natal e outras cidades do interior da Paraíba
para o atendimento a nossa equipe multiprofissional, onde realizamos pactuações
de atendimento com outras especialidades médicas dentro do CAIS Jaguaribe.
Nesse sentido recebemos algumas
mães desses homens trans que vinham com os mesmos ( já que grande parte eram
jovens) de várias cidades, assim realizamos uma escuta qualificada também das
famílias e percebemos a dificuldade que era para a família entender sobre esse
processo transexualizador. Pois vivemos numa identidade de gênero binária onde
fica muito difícil essa família acolher um homem que foi educado a vida toda
como menina e na adolescência essa menina precisa mudar seu corpo para se
adequar ao seu sexo indenitário
masculino, nesse rompimento há vários conflitos subjetivos, principalmente no
tocante ao seu corpo biológico feminino em contraste com a sua psique masculina.
Diferentemente dos transexuais feminino que
foram educados como menino e assim já tinham esse comportamento cultural de
serem educados para agirem fora de casa, os homens trans foram educados para
serem comportados e obedientes, assim havia uma dificuldade de se expressarem
pelo próprio comportamento sócio-cultural esperado de uma menina.( submissa,
comportada e dona de casa).
Assim depois de muitas rodas de
dialogo entre profissionais, família e os próprios usuários, resolvemos
promover o I Seminario Municipal sobre Homens Trans que ocorreu na UFPB em dezembro de 2012.
Uma questão unanime trazida durante os debates foi sobre a autonomia desses homens de mudaram seus corpos sem precisarem de laudos da equipe multiprofissional em saúde, claro que de um lado é uma forma que o SUS encontrou de cuidar integralmente desses corpos, porem há um outro lado que Foucolut vai trazer no livro vigiar e punir sobre o processo de docilização desses corpos, é como se o outro tivesse mais uma vez o poder de dizer o que se pode ou não se pode fazer sobre esse corpo. Onde o grande questionamento dos homens trans é seu o corpo é meu, eu tenho os multiplos desejos e o dominio sobre ele e não é o seu saber tecnicista que vai molda lo de acordo com o seu olhar científico.
O segmento populacional de homens
trans, transhomens, FTM, transgêneros e transexuais masculinos sempre foi, na
história deste país, uma categoria social e política invisível e inexistente.
Tal situação vem sendo modificada pela importante visibilidade na mídia
ocasionada pelo lançamento do livro autobiográfico Viagem Solitária de João W.
Nery, transhomem mais antigo do Brasil, em 2011; pela militância dos homens trans,
junto a fundação da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT) em 2012; o
acolhimento do movimento LGBT e da academia; a facilidade de comunicação entre
o segmento decorrente da utilização da internet; e o acolhimento dos homens
trans no Processo Transexualizador no SUS, ainda que até então haja restrição à
atenção ao nosso segmento neste Processo.
No entanto esse segmento populacional invisível possui
prejuízos grandes relacionados à violência homo-transfóbica e machista, e se encontram numa situação de grave negação de direitos sociais como saúde
específica e integral, educação, trabalho, segurança entre outros. Considera- se também a invisibilidade uma expressão da transfobia, da homofobia e do
machismo, que nos obriga a permanecermos invisíveis como uma medida de proteção
contra violências as mais diversas e negação de direitos.
Vale ressaltar que a ABHT -
Associação Brasileira de Homens Trans e o recentemente instituto criado IBRAT – Instituto Brasileiro de Trans Homens, são fundamentais para a reflexão dos homens trans no Brasil e que esses militantes possam continuar com sua luta infindável de terem direitos por politicas publicas para que suas vozes possam ser ouvidas e serem ecoadas para alem de seus corpos!
FONTES PESQUISADAS:
O HOMEM TRANS E A (RE) CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
Patrícia Michelini de Matos Batista, discente do curso de Licenciatura em Ciências Sociais, bolsista de
iniciação científica da Universidade Estadual de Santa Cruz (ESC) – PROIC/UESC 2012
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