domingo, 15 de junho de 2014

EU NÃO TENHO NADA CONTRA OS HOMOSSEXUAIS, MAS...

“Nada contra casais homossexuais se casarem adotarem uma criança e construirem (sic) familia (sic), mas dai dá uma boneca para um inocente brincar ....”

 Essa foi a frase que uma pessoa colocou no meu facebook assim que a foto do meu filho foi publicada segurando uma boneca de pano. Não dá mais para acostumarmos com esse falso moralismo e ainda vem com um discurso homofóbico e machista que temos que tentar engolir goela abaixo. O pior do discurso é essa pessoa falar que tem amigos homossexuais e que não tem nada contra eles .Eu continuo a frase dizendo: nem a favor né?

 Não minha amiga, não dá para concordar com tamanho discriminação e preconceito a uma família que faz de tudo para dar a melhor educação a seu filho. Nossos filhos (as) devem ter o direito de brincar e serem felizes com qualquer brinquedo que seja. Como já dizia Melanie Klein, quanto mais lúdico for o universo infantil, mais saudável ela será, pois o poder de fantasiar e imaginar é salutar para o equilíbrio de sua estrutura psíquica.

Se a imagem de uma boneca no colo de uma criança do sexo masculino te ofende tanto, é você que tem que se analisar enquanto pessoa, pode ter algumas questões mal resolvidas dentro de ti. Estou cansado de ter que justificar o injustificável. Vivemos no ano de 2014, onde a homofobia ainda não é crime e por não ser crime algumas pessoas se dão ao direito de atropelar a nossa expressão familiar e da nossa sexualidade, bem distante daquela “heteronormativa” que muitas vezes se vale do conceito da “tradição familiar”, valendo-se da cultura coronelista, machista e transgeracional ainda tão vigente no nosso país nos dias de hoje.

 O conceito de família vem mudando há décadas não temos mais aquela família nuclear de mãe, pai e filhos, hoje temos múltiplos modelos de família, porém em nossa sociedade judaico-cristã não se leva em consideração essa diversidade familiar, uma vez que ainda o cristianismo trata essa população como anomalia, pecadores e que devem permanecer eternamente no fogo do inferno. Esqueceram-se de avisar à cúpula cristã que o inferno permanece aceso em nosso dia a dia, nos julgamentos e discriminações que nós gays, lésbicas, bissexuais e transexuais passamos em nossa rotina diária no convívio social, e, sendo bem sincero, não me acostumo nunca com essa discrepância de diretos...Estado democrático vivemos sim, agora de direitos??? Para quem?

 Que possamos continuar a nossa luta pelo sentimento de respeito. Demonstrando afeto aos nossos filhos e companheiros, de expressar nossa sexualidade livre de olhares, chacotas e violência verbal e física, de sermos acolhidos nas instituições públicas e privadas que devem respeitar a laicidade, de sermos incluídos por nossos familiares, pois muitas vezes o machismo impera na educação doméstica, enfim, de termos nossa cidadania garantida como rege a nossa Constituição, pois só quem passa por discriminação sabe o quanto essas feridas demoram a cicatrizar.

 Então, se você realmente respeita a população LGBT saia do muro do “mas”, ou assuma que você ainda não tem capacidade de nos respeitar e reflita sobre isso. Afinal se o preconceito é seu, você é que tem que dar conte dele!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

TRANSFOBIA - QUANTAS VEZES PRECISAMOS MORRER?

Pedrinho nos deixou, deixou seus sonhos, suas lutas pelos trans homens, seu sorriso tímido e suas peripécias pelo mundo afora...mais um transexual assassinado em nossas comunidades e novamente o nosso lado moral na frente e testemunhamos: " NÃO FOI TRANSFOBIA". Pois não mataram ele por ser homens trans, de fato não foi a primeira vez que havia morrido, pois já haviam matado ele durante varias vezes durante sua vida. Mataram seus sonhos de conseguir um emprego formal, mataram seus desejos de ser tratado como menino, mataram quando não conseguia ficar na escola por conta da discriminação que sofria, mataram quando ele insistiu em ter uma identidade masculina e negaram trata lo como Pedro. Como pode uma pessoa que só tem um corpo ser morta tantas vezes? Até quando a transfobia ira matar centenas de homens e mulheres transexuais que deveriam ter seus corpos respeitados? Porque a transexualidade incomoda tanto a nossa sociedade? Estamos cansados dessa violência desenfreada e tão permissiva as (os) transexuais lembro do poema Rafael Menezes "AVESSO DAS TRAVESTIS" que fala muito da dor que sentimos todos nós que lutamos para nos sentir incluídos num sistema tão machista e sexista onde teimamos sobreviver. “Eu sou o avesso do que o Sr. sonhou para o seu filho. Eu sou a sua filha amada pelo avesso. A minha embalagem é de pedra mas meu avesso é de gesso. Toda vez que a pedra bate no gesso, me corta toda por dentro. Eu mesma me corto por dentro, só eu posso, só eu faço. Na carne externa quem me corta é o mesmo que admira esse meu avesso pelo lado de fora. Eu sou a subversão sublime de mim mesma. Sou o que derrama, o que transborda da mulher. Só que essa mulher sou eu, sou o que excede dela. Ou seja, eu sou ela com um plus, com um bônus. Sou a mulher que tem força de homem, que tem o coração trabalhado no gelo. Que pode ser várias, uma em cada dia da semana. Eu tenho o cabelo que eu quiser, a unha da cor que eu quiser. Os peitos do tamanho que eu quiser, e do material que puder pagar. O que eu não trocaria por uma armadura medieval , uma prótese blindada talvez. A prova de balas, a prova de facas. Uma prótese dura o suficiente para me proteger de um tiro e maleável o suficiente para ainda deixar o amor entrar. Bailarina troglodita de pernas de pau. Eu fui expulsa da escola de dança e aprovada em primeiro lugar na escola da vida. Vestibular de morte, na cadeira da “bombadeira”, minha primeira lição. Era a pele que crescia e me dava a aparência que eu sonhava. Conosco, a beleza e a morte andam de mãos dadas. No mesmo trilho de uma vida marcada por dedos que apontam ate o fim da existecia. Na minha esquina. Sim, aqui as esquinas tem donos. A noite, meninas como eu ou como outra qualquer, usando um pedaço de tecido fingindo ser uma saia, brincos enormes, capazes de fazer uma mulher comum perder o equilíbrio e um salto de acrílico de altura inimaginável, que a faz sentir-se inatingível. Ela merece uma medalha. Para um carro, um homem ao volante que deixa em casa sua mulher, e quer ser mulher, ate mais feminina que nós talvez. Porque dessa vez os litros de silicone, os cabelos tingidos, os brincos enormes, o saltos altíssimos não impressionaram a ele. Seu desejo é pelo que ela não mostra nas ruas, ela vai ter que se ver como homem mais uma vez. E a vida segue. Muitas morrem, outras nascem cada vez mais novas. E assim elas vão, desviando dos tiros, esbarrando no preconceito, correndo da polícia. Mas sempre com um batom nos lábios, um belo salto nos pés e na maioria das vezes um vazio no coração. Ela não precisa de redenção.