domingo, 25 de maio de 2014

Saude Coletiva para quem?


Percebo que estamos vivendo um momento de encontros e desencontros sobre o modelo de saúde publica que está instalado em nosso país, refiro me a grande dificuldade de focarmos no modelo de atenção a saúde que desejamos em nosso Sistema Único de Saúde, ainda discutimos a velha questão dos modelos colocados em nossas práticas, focados no procedimento medicamentoso, nas nossas praticas curativas, preventivas e hospitalocentricas.
Todos que trabalhamos com saúde sabemos do conceito amplo de saúde pela Organização Mundial de Saúde  tão discutidos por nós profissionais e  sanitaristas em todas as formações.." Saúde completo bem estar Biopsicosocial...".
O que questiono é porque não fazemos um debate mais amplo sobre a prática nos nossos processos de cuidado? Porque ainda tratamos os nossos equipamentos de saúde de maneira  privatista e excludente? Falamos num Sistema que tem como princípios a Integralidade, nos seus níveis de complexidade e no entendimento de cuidarmos das pessoas integralmente, o principio da EQUIDADE que deveria tratar as pessoas excluídas de forma a garantir seus direitos e cidadania plena, diminuindo as iniquidades de saúde.

Mas de fato como é a nossa prática desse cuidado? Qual a prostituta que consegue ir a unidade de saúde da família e dialogar sobre sua profissão? Ou se sentir incluída nas suas subjetividades? Como acolhemos uma pessoa vivendo em situação de rua que está alcoolizada naquele momento do cuidado? Como acolhemos uma transexual feminina que precisa dialogar sobre seu silicone industrial que está causando dores físicas? Como abordamos uma adolescente gestante que está em trabalho abortivo por ter tomado um medicamento e não deseja ter seu filho naquele momento?

Nossas praticas são de acolhimento seguindo os nossos códigos de ética, ou são praticas mini facistas (MERRY) onde apontamos o dedo e julgamos esses indivíduos até a ultima instancia? Não dá mais vivermos num mundo de faz de conta onde nossas praticas de descuidado estão internalizadas dentro de nós profissionais a todo instante, se de fato queremos trabalhar com saúde pública, que possamos refletir sobre nossas posturas, nossos sonhos, nossas frustações, nosso processo de análise individual.
O outro é um ser único, assim ele tem um mundo dentro de si que precisa ser respeitado e acolhido, as dores são únicas, assim como a vida do outro também.

É nessa relação terapêutica de unicidade que precisamos focar o nosso olhar, num mundo onde a midia faz acreditar que todos os jovens são violentos e assim precisamos fazer justiça com as próprias mãos, fica cada vez mais difícil estendermos as nossas mãos, olhares e atenção aos usuários(as) que nos procuram em busca de inclusão, respeito e dignidade.

Um comentário:

  1. Olá Roberto, parabéns pela abertura desse espaço de debate: grande potência de diálogo...
    Concordo também que o SUS da legislação está longe de ser o SUS da prática cotidiana nos serviços - onde essa potência do encontro como diz Merhy realmente não acontece - ... Uma questão: Imaginem se fosse obrigatório todos os políticos utilizarem o serviço do SUS, será que alguma coisa melhoraria? na real, o SUS é gerenciado para não funcionar, os gestores o fazem ser tão burocrático que seu poder de alcance para a população acaba sendo mínimo. O que se compreende é que o seu funcionamento é limitado, gerando sofrimento, discriminação, maus tratos com quem paga a conta: que somos nós... O problema é que com a fragilização dos movimentos sociais e o descaso da classe média, fazer oposição aos lobistas politiqueiros de plantão, é uma tarefa muito árdua...
    LeoRoque

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