segunda-feira, 2 de junho de 2014

TRANSFOBIA - QUANTAS VEZES PRECISAMOS MORRER?

Pedrinho nos deixou, deixou seus sonhos, suas lutas pelos trans homens, seu sorriso tímido e suas peripécias pelo mundo afora...mais um transexual assassinado em nossas comunidades e novamente o nosso lado moral na frente e testemunhamos: " NÃO FOI TRANSFOBIA". Pois não mataram ele por ser homens trans, de fato não foi a primeira vez que havia morrido, pois já haviam matado ele durante varias vezes durante sua vida. Mataram seus sonhos de conseguir um emprego formal, mataram seus desejos de ser tratado como menino, mataram quando não conseguia ficar na escola por conta da discriminação que sofria, mataram quando ele insistiu em ter uma identidade masculina e negaram trata lo como Pedro. Como pode uma pessoa que só tem um corpo ser morta tantas vezes? Até quando a transfobia ira matar centenas de homens e mulheres transexuais que deveriam ter seus corpos respeitados? Porque a transexualidade incomoda tanto a nossa sociedade? Estamos cansados dessa violência desenfreada e tão permissiva as (os) transexuais lembro do poema Rafael Menezes "AVESSO DAS TRAVESTIS" que fala muito da dor que sentimos todos nós que lutamos para nos sentir incluídos num sistema tão machista e sexista onde teimamos sobreviver. “Eu sou o avesso do que o Sr. sonhou para o seu filho. Eu sou a sua filha amada pelo avesso. A minha embalagem é de pedra mas meu avesso é de gesso. Toda vez que a pedra bate no gesso, me corta toda por dentro. Eu mesma me corto por dentro, só eu posso, só eu faço. Na carne externa quem me corta é o mesmo que admira esse meu avesso pelo lado de fora. Eu sou a subversão sublime de mim mesma. Sou o que derrama, o que transborda da mulher. Só que essa mulher sou eu, sou o que excede dela. Ou seja, eu sou ela com um plus, com um bônus. Sou a mulher que tem força de homem, que tem o coração trabalhado no gelo. Que pode ser várias, uma em cada dia da semana. Eu tenho o cabelo que eu quiser, a unha da cor que eu quiser. Os peitos do tamanho que eu quiser, e do material que puder pagar. O que eu não trocaria por uma armadura medieval , uma prótese blindada talvez. A prova de balas, a prova de facas. Uma prótese dura o suficiente para me proteger de um tiro e maleável o suficiente para ainda deixar o amor entrar. Bailarina troglodita de pernas de pau. Eu fui expulsa da escola de dança e aprovada em primeiro lugar na escola da vida. Vestibular de morte, na cadeira da “bombadeira”, minha primeira lição. Era a pele que crescia e me dava a aparência que eu sonhava. Conosco, a beleza e a morte andam de mãos dadas. No mesmo trilho de uma vida marcada por dedos que apontam ate o fim da existecia. Na minha esquina. Sim, aqui as esquinas tem donos. A noite, meninas como eu ou como outra qualquer, usando um pedaço de tecido fingindo ser uma saia, brincos enormes, capazes de fazer uma mulher comum perder o equilíbrio e um salto de acrílico de altura inimaginável, que a faz sentir-se inatingível. Ela merece uma medalha. Para um carro, um homem ao volante que deixa em casa sua mulher, e quer ser mulher, ate mais feminina que nós talvez. Porque dessa vez os litros de silicone, os cabelos tingidos, os brincos enormes, o saltos altíssimos não impressionaram a ele. Seu desejo é pelo que ela não mostra nas ruas, ela vai ter que se ver como homem mais uma vez. E a vida segue. Muitas morrem, outras nascem cada vez mais novas. E assim elas vão, desviando dos tiros, esbarrando no preconceito, correndo da polícia. Mas sempre com um batom nos lábios, um belo salto nos pés e na maioria das vezes um vazio no coração. Ela não precisa de redenção.

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